2

Lisboa literária

Posted by Sarah Souza on 13:10
"Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

— Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!”
(Canto IV - Os Lusíadas, Luís de Camões)


O mais incrível de andar por algumas partes de Lisboa é encontrar resquícios da literatura que me acompanhou esse anos todos. Dizer que encontrar a residência de Fernando Pessoa foi emocionante, é repetir o post anterior, mas não posso deixar de registrar o quanto é encantador encontrar, por exemplo, a cidade cantada por Camões. Tudo começou quando decidimos ir à Belém. Esse bairro, ou melhor, freguesia está ligada ao perído dos Descobrimentos, quando D. Manuel I subiu ao trono em 1495. Para chegar ao bairro que abriga pontos turísticos como o Padrão do Descobrimento, Torre de Belém, Mosteiro de São Jerônimo pegamos o autocarro Restelo. Logo, minhas aulas de literatura vieram a cabeça e lembrei de um tal velho do restelo. Um dos muitos Cantos dos Lusíadas (canto IV) em que Camões contava que, quando as naus de Vasco da Gama se despediam do porto de Belém, um ancião, o Velho do Restelo, elevando a voz, manifestou sua oposição à viagem às Índias.

Ás margens do Tejo está o Monumento aos Descobrimentos, popularmente conhecido como Padrão do Descobrimento. Foi erguido para homenagear os elementos envolvidos no processo de expansão marítima portuguesa.

O monumento original foi encomendado pelo regime de António de Oliveira Salazar para a Exposição do Mundo Português (1940), e desmontado em 1958. O atual, uma réplica do anterior, foi erguido em betão com esculturas em pedra de lioz, erguendo-se a 50 metros de altura. Foi inaugurado em 1960, no contexto das comemorações dos quinhentos anos da morte do Infante D. Henrique, o Navegador.

Tem a forma de uma caravela estilizada, com o escudo de Portugal nos lados e a espada da Casa Real de Avis na entrada. D. Henrique, o Navegador, ergue-se à proa, com uma caravela nas mãos. Em duas filas descendentes, de cada lado do monumento, estão as estátuas de heróis portugueses ligados aos Descobrimentos. No lado esquerdo está o poeta Camões, com um exemplar de Os Lusíadas, o pintor Nuno Gonçalves com uma paleta, bem como famosos navegadores, cartógrafos e reis. São cerca de 33 personalidades representadas.

Além disso, o Padrão do Descobrimento tem um mirante que proporciona uma incrível visão de Lisboa e do Tejo. E, mais uma vez, literatura e história se fazem presentes. Naquele local tudo começou, as primeiras navegações que levaram os portugueses ao "novo mundo" e ao questionado descobrimento do Brasil. No chão, bem próximo ao Tejo, as palavras de Alberto Caiero, heterônimo de Fernando Pessoa, retratam o sentimento de "ir além" que imperava naquela época. Lê-se em letras brancas sobre o asfalto:



"Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele. "
("O Guardador de Rebanhos - Poema XX")





2 Comments


Sarinha, estou amando teu Blog, parece que estou aí contigo. Curto cada postagem. Aproveite muito.
Bjos,
Sandra Beck


Sarah, por favor! Deixa de enrolação e faz um post sobre o que realmente interessa: comida! Com foco nos doces, de preferência.

Ah, pelo o q eu vi tu já tá por dentro das linhas de bus aí tb! Grande!

Bjss

Copyright © 2009 Bahgagem All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive.