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Brasil independente; emigrantes dependentes

Posted by Sarah Souza on 11:37
É impressionante, aqui em Portugal, o grande número de brasileiros que estão ilegais no país. Sempre pensei que esse problema não fosse tão grave, comparado aos Estados Unidos. Estava errada, não imaginava que a situação aqui também fosse tão séria. São muitas pessoas sem direito algum, que trabalham em "subempregos", agarrados na expectativa de ter uma vida melhor do que no país natal. Triste paradoxo: o país natal tornou-se "independente" de Portugal há exatamente 188 anos.

Os brasileiros representam 25% da população estrangeira do país. Não existem dados precisos sobre estrangeiros ilegais. Em 2009 foram detectadas cerca de 15 mil pessoas, deste número mais de duas mil são naturais do Brasil. Além disso, o relatório anual do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), divulgado em agosto de 2010, aponta que no ano passado mais de 350 pessoas de nacionalidade brasileira foram expulsas do país. Praticamente uma deportação por dia.

Os brasileiros também lideram os índices das recusas de entrada no país. Das 2.564 efetuadas em 2009, 1.668 foram a cidadãos brasileiros, na sua maioria por "ausência de motivos que justifiquem a entrada". Eu necessitei de visto e passei por um processo muito burocrático para chegar aqui. A grande vantagem foi a minha condição de estudante. No entanto, durante minha estada no país ainda precisarei apresentar documentação para provar que sigo os estudos e assim renovar o visto.

O "Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo 2009" (Rifa 2009) do SEF aponta que esse crescimento "forte e contínuo" da comunidade brasileira é um fenômeno que ocorre desde o início do século. A facilidade que o imigrante tem de arranjar trabalho em Portugal é perceptível. No entanto, isso tudo resulta na exploração do trabalho com uma carga horária maior, salários mais baixos e muitas vezes sem contratos de trabalho.

Passei por uma situação muito interessante, onde pude perceber inclusive a preferência por brasileiros em algumas atividades profissionais. Uma entrevista de trabalho para vendas de cosméticos. A atividade era com vendas ativas e abordagens de pessoas em um shopping de Lisboa. O trabalho não era ruim e a empresa parecia ser séria. O que chama a atenção, é o fato de que praticamente todos os funcionários eram brasileiros. Fui saber mais tarde que essa atividade não é bem aceita pelos trabalhadores portugueses. Existem muitas vagas também para vendas com telemarketing que recrutam preferencialmente trabalhadores "tupiniquins".

A vida na ilegalidade e as explorações refletem os motivos pelos quais os brasileiros acabam sendo malvistos. Não são raros os relatos de preconceito. Um estudo apresentado em 2007 pelo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), intitulado "Imigração Brasileira em Portugal" revelou que cerca de 45% dos 400 brasileiros entrevistados consideram ter presenciado casos de discriminação. Além disso, muito se fala nos casos de prostituição que envolvem brasileiras. Jovens e bonitas, muitas mulheres são atraídas para cá pela vida fácil e pela possibilidade de ganhos altos.

Isso tudo, aliado ao estereótipo de que a mulher brasileira é "sensual" e "oferecida", está muito presente no imaginário nacional, pelo que pude perceber. Nem preciso falar sobre os efeitos negativos que esse "rótulo" causa na imagem de todas as imigrantes de modo geral.

O Brasil comemora mais um ano de independência mas perde muitos dos seus filhos, que tornam-se dependentes e aprisionados pela ilegalidade, no país descobridor. (7 de setembro de 2010).

* Agradecimento a Laura Valmorbida, pois o assunto em questão surgiu em um bate-papo com ela.

2 Comments


Valeu tu ter ficado acordada para escrever isso, sério. De nada pela ideia (hehehhe). Mas Sarinhah, parabéns pelo texto!
Pena que tudo que tá ai seja verdade, mas o texto ta muito bom!

Beijos


Sarah e Laura, sei que foi escrito, apenas, um ótimo texto, mas vocês estão tratando de um assunto pra lá de sério e grave. Fascinante, não duvido, mais ainda, para quem se inicia na profissão do jornalismo. No entanto, é preciso que tenham muito cuidado, se acontecer - e apenas se acontecer! - de pensarem em avançar sobre ele. Neste caso, sugiro que, antes, tentem conversar com quem já tenha tido experiências nele e, principalmente(!), conversem com suas famílias. Por favor, não façam nada de improviso. Não se esqueçam de que um profissional - de que área seja - tem o dever de ser meticuloso, ao fazer seus planos, e extremamente cuidadoso ao executá-los. O improviso nunca será profissional. Me perdoem se me arvoro em pai, avô ou o que for, mas tenho boa noção do que estou falando, e vocês acabarão por toparem com o assunto, se "fuçarem" nele. Como dizem, sabe o diabo mais por velho... Ah! A ninguém, que não seja da mais absoluta confiança de vocês, deem o seu endereço. Uêps! Já estou passando da conta... Perdoem. Parei!

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