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O manuscrito perdido de Fradique Mendes

Posted by Sarah Souza on 10:46

Dentro da programação do Doc Lisboa 2010 pude assistir ao documentário "O manuscrito perdido de Fradique Mendes". No filme, o realizador português José Barahona reconstrói os passos do personagem literário que se aventura por terras brasileiras no século 19. Viajado e sofisticado, Fradique foi criado pelo escritor Eça de Queirós e aparece no livro Correspondência de Fradique Mendes.

José Barahona,inicialmente, propõem-se a encontrar o manuscrito que estaria no mosteiro do povoado baiano Cairu. Como sua busca não foi bem sucedida, ele passa a registrar tudo o que encontra pelo caminho até chegar ao seu objetivo, que está no Rio de Janeiro. Durante todo o percurso, a partir de depoimentos de pessoas, é apresentada uma reflexão sobre as origens da sociedade brasileira e sua ligação com Portugal.

Com muita sensibilidade Barahona tenta mostrar um pouco da mistura de etnias presente em sua volta, dando espaço e voz a índios, brancos e negros. Segundo ele, muitas das pessoas encontradas tinham a necessidade de se comunicar.

Depois de gravar com comunidades quilombolas, militantes do movimento dos sem-terras e índios José Barahona chega ao Rio de Janeiro. Uma cena curiosa marca sua chegada: índios pintam-se como se preparassem para uma festa e saem caracterizados pelas ruas cariocas. Sobem no ônibus e dirigem-se até a praia, onde tudo indica que irão passar o dia vendendo objetos confeccionados por eles. Segundo Barahona essa é uma cena marcante. "Achei curioso e importante de retratar que apenas na cidade os índios parecem mais com índios", conclui. O indício diria eu, de que até a cultura virou objeto de troca nessa sociedade capitalista. Os índios não usam cocares e outros adereços para cultivar uma tradição, mas sim para chamar a atenção de turistas e ganhar um pouco de dinheiro. A maneira encontrada por muitos para garantir o sustento.

Com uma equipe de cerca de 10 pessoas o projeto levou de 5 a 6 anos para ser concluído, contando desde a concepção do roteiro até a estréia do no Doc Lisboa 2010. A idéia incial, segundo o cineasta, era mostrar os reflexos do descobrimento do ponto de vista do Brasil. Ele afirma que sente-se incomodado com tendência portuguesa de se glorificar pelo período do descobrimento e esquecer todo o sofrimento causado aos outros povos. "Eu como português não me sinto culpado pelas barbáries daquela época como a escravidão, mas tampouco me vanglorio disso", declara.

O documentário é também uma crítica à sociedade portuguesa que vive presa aos feitos do passado e não olha para o futuro. Barahona chama atenção para as histórias de vida dos brasileiros retratados que, mesmo aparentemente com tantos problemas, querem buscar a felicidade com olhos para o horizonte.

* Fotografia retirada do site www.doclisboa.org.

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